terça-feira, 26 de outubro de 2010

Santo raciocínio lógico...

Santo Arnulf é o autor de “Heri hodie crastinum” onde diz:"O presente é mais breve que o relâmpago e o futuro não é mais que uma miragem, e sendo assim, tudo o que existe é o passado, e aquilo que ainda não o é, um dia será".

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Erico Verissimo




Erico Lopes Verissimo nasceu em Cruz Alta (RS) no dia 17 de dezembro de 1905, filho de Sebastião Verissimo da Fonseca e Abegahy Lopes Verissimo.
Em 1909, com menos de 4 anos, vítima de meningite, agravada por uma broncopneumonia, quase vem a falecer. Salva-se graças à interferência do Dr. Olinto de Oliveira, renomado pediatra, que veio de Porto Alegre especialmente para cuidar de seu problema.
Inicia seus estudos em 1912, freqüentando, simultaneamente, o Colégio Elementar Venâncio Aires, daquela cidade, e a Aula Mista Particular, da professora Margarida Pardelhas. Nas horas vagas vai o cinema Biógrafo Ideal ou vê passar o tempo na Farmácia Brasileira, de seu pai.
Aos 13 anos, lê autores nacionais (Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos). Com tempo livre, tendo em vista o recesso escolar devido à gripe espanhola, dedica-se, também, aos autores estrangeiros, lendo Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola e Dostoievski.
Em 1920, vai estudar, em regime de internato, no Colégio Cruzeiro do Sul, de orientação protestante, localizado no bairro de Teresópolis, em Porto Alegre. Tem bom desempenho nas aulas de literatura, inglês, francês e no estudo da Bíblia.
Seus pais separam-se em dezembro de 1922. Sua mãe, o irmão Enio e a filha adotiva do casal, Maria, vão morar na casa da avó materna Maurícia Leite de Mores.
Para ajudar no orçamento doméstico, torna-se balconista no armazém do tio Americano Lopes. Os tempos difíceis não o separam dos livros: lê Euclides da Cunha, faz traduções de trechos de escritores ingleses e franceses e começa a escrever, escondido, seus primeiros textos.
Vai trabalhar no Banco Nacional do Comércio. Continua devorando livros. Em 1923. Lê Monteiro Lobato, Oswald e Mário de Andrade. Incentivado pelo tio materno João Raymundo, dedica-se à leitura das obras de Stuart Mill, Nietzsche, Omar Khayyam, Ibsen, Verhaeren e Rabindranath Tagore.
No ano seguinte, a família da mãe muda-se para Porto Alegre, a fim de que seu irmão, Ênio, faça o ginásio no Colégio Cruzeiro do Sul. Infelizmente a mudança não dá certo. O autor, que havia conseguido um lugar na matriz do Banco do Comércio, tem problemas de saúde e perde o emprego. Após tratar-se, emprega-se numa seguradora mas, por problemas de relacionamento com seus superiores, passa por maus momentos. Morando num pequeno quarto de uma casa de cômodos e diante de tantos insucessos, a família resolve voltar a Cruz Alta.
Erico volta a trabalhar no Banco do Comércio, como chefe da Carteira de Descontos, em 1925. Toma gosto pela música lírica, que passa a ouvir na casa de seus tios Catarino e Maria Augusta. Seus primos, Adriana e Rafael, filhos do casal, seriam os primeiros a ler seus escritos. Logo percebe que a vida de bancário não o satisfaz. Mesmo sem muita certeza de sucesso, aceita a proposta de Lotário Muller, amigo de seu pai, de tornar-se sócio da Pharmacia Central, naquela cidade, em 1926.
Em 1927, além dos afazeres de dono de botica, dá aulas particulares de literatura e inglês. Lê Oscar Wilde e Bernard Shaw. Começa a sedimentar seus conhecimentos da literatura mundial lendo, também, Anatole France, Katherine Mansfield, Margareth Kennedy, Francis James, Norman Douglas e muitos outros mais. Começa a namorar sua vizinha, Mafalda Halfen Volpe, de 15 anos.
O mensário “Cruz Alta em Revista” publica, em 1929, “Chico: um conto de Natal” que, por insistência do jornalista Prado Júnior, Erico havia consentido. O colega de boticário e escritor Manoelito de Ornellas envia ao editor da “Revista do Globo”, em Porto Alegre, os contos “Ladrão de gado” e “A tragédia dum homem gordo”, onde, aprovadas, foram publicadas.
Erico remete a De Souza Júnior, diretor do suplemento literário “Correio do Povo”, o conto “A lâmpada mágica”. Esse, segundo testemunhas, o publica sem ler, o que dá ao autor notoriedade no meio literário local.
Com a falência da farmácia, em 1930, o autor muda-se para Porto Alegre disposto a viver de seus escritos. Passa a conviver com escritores já renomados, como Mario Quintana, Augusto Meyer, Guilhermino César e outros. No final do ano é contratado para ocupar o cargo de secretário de redação da “Revista do Globo”, cargo que ocupa no início do ano seguinte.
Em 1931 casa-se, em Cruz Alta, com Mafalda Halfen Volpe. Lança sua primeira tradução, “O sineiro”, de Edgar Wallace, pela Seção Editora da Livraria do Globo. No mesmo ano traduz desse escritor “O círculo vermelho” e “A porta das sete chaves”. Colabora na página dominical dos jornais “Diário de Notícias” e “Correio do Povo”.
Em 1932, é promovido a Diretor da “Revista do Globo”, ocasião em que é convidado por Henrique Bertaso, gerente do departamento editorial da “Livraria do Globo”, a atuar naquela seção, indicando livros para tradução e publicação. Sua obra de estréia, “Fantoches”, uma coletânea de histórias em sua maior parte na forma de peças de teatro. Foram vendidos 400 exemplares dos 1.500 publicados. A sobra, um incêndio queimou.
Traduz, em 1933, “Contraponto”, de Aldous Huxley, que só seria editado em 1935. Seu primeiro romance, “Clarissa”, é lançado com tiragem de 7.000 exemplares.
Seu romance “Música ao longe” o faz ser agraciado com o Prêmio Machado de Assis, da Cia. Editora Nacional, em 1934. No ano seguinte, nasce sua filha Clarissa. Outro romance, “Caminhos cruzados”, recebe o Prêmio Fundação Graça Aranha. O autor admite a associação desse romance a “Contraponto”, de Aldo Huxley, o que faz com que seja mal recebido pela direita e atice a curiosidade e a vigilância do Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul, que chegou a chamá-lo a depor, sob a acusação de comunismo. São publicados, ainda nesse ano, “Música ao longe” e “A vida de Joana d’Arc”. Realiza sua primeira viagem ao Rio de Janeiro (RJ), onde faz contato com Jorge Amado, Murilo Mendes, Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego e outros mais. Seu pai falece.
Em 1936, publica seu primeiro livro infantil, “As aventuras do avião vermelho”. Lança, também, “Um lugar ao sol”. Cria o programa de auditório para crianças, “Clube dos três porquinhos”, na Rádio Farroupilha, a pedido de Arnaldo Balvé. Dessa idéia surge a “Coleção Nanquinote”, com os livros “Os três porquinhos pobres”, “Rosa Maria no castelo encantado” e “Meu ABC”. Lança a revista “A novela”, que oferecia textos canônicos ao lado de outros, de puro entretenimento. Nasce seu filho Luis Fernando. É eleito presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa.
O DIP - Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, exige que o autor submeta previamente àquele órgão as histórias apresentadas no programa de rádio por ele criado, em 1937. Resistindo à censura prévia, encerra o programa. Outra reação ao nacionalismo ufanista da ditadura Vargas se faz sentir na versão para didática da história do Brasil em “As aventuras de Tibicuera”.
Um de seus maiores sucessos, “Olhai os lírios do campo”, é lançado em 1938. Publica, nesse mesmo ano, “O urso com música na barriga”, da “Coleção Nanquinote”. Erico passa a dedicar a maior parte de seu tempo ao departamento editorial da Globo, em 1939. Em companhia de seus companheiros Henrique Bertaso e Maurício Rosenblatt, é responsável pelo sucesso estrondoso de coleções como a Nobel” e da “Biblioteca dos Séculos”, nas quais eram encontrados traduções de textos de Virginia Wolf, Thomas Mann, Balzac e Proust. Mesmo assim, com todo esse trabalho, arranja tempo para lançar, ainda da série infantil, “A vida do elefante Basílio” e “Outra vez os três porquinhos”, e o livro de ficção científica “Viagem à aurora do mundo”.
Em 1940, lança “Saga”. Pronuncia conferências em São Paulo (SP). Traduz “Ratos e homens”, de John Steinbeck; “Adeus Mr. Chips” e “Não estamos sós”, de James Hilton; “Felicidade” e “O meu primeiro baile”, de Katherine Mansfield. Faz sua primeira noite de autógrafos na Livraria Saraiva.
Passa três meses nos Estados Unidos, a convite do Departamento de Estado americano, em 1941, proferindo conferências. As impressões dessa temporada estão em seu livro “Gato preto em campo de neve”. Ele e seu irmão Enio são testemunhas de um suicídio: uma mulher se atira do alto de um edifício quando conversavam na praça da Alfândega, em Porto Alegre. Esse acontecimento é aproveitado em seu livro “O resto é silêncio”.
A censura no estado novo continuava atenta. A Globo cria a Editora Meridiano, uma subsidiária secreta para lançar obras que pudessem desagradar ao governo. Essa editora publica “As mãos de meu filho”, reunião de contos e outros textos, em 1942.
No ano seguinte, publica “O resto é silêncio”, livro que merece críticas pesadas do clero local. Temendo que a ditadura Vargas viesse a causar-lhe danos e á sua família, aceita o convite para lecionar Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia feito pelo Departamento de Estado americano. Muda-se para Berkley com toda a família.
O Mills College, de Oakland, Califórnia, onde dava aulas de Literatura e História do Brasil, confere-lhe o título de doutor Honoris Causa, em 1944. É publicado o compêndio “Brazilian Literature: An Outline”, baseado em palestras e cursos ministrados durante sua estada na Califórnia. Esse livro foi publicado no Brasil, em 1955, com o título “Breve história da literatura brasileira”. Passa o ano de 1945 fazendo conferências em diversos estados americanos. Retorna ao Brasil.
Em 1946, publica “A volta do gato preto”, sobre sua vida nos Estados Unidos. Inicia, em 1947, a escrever “O tempo e o vento”. Previsto para ter um só volume, com aproximadamente 800 páginas, e ser escrito em três anos, acabou ultrapassando as 2.200 páginas, sob a forma de trilogia, consumindo quinze anos de trabalho. Traduz “Mas não se mata cavalo”, de Horace McCoy. Faz a primeira adaptação para o cinema de uma obra de sua autoria: “Mirad los lírios Del campo”, produção argentina dirigida por Ernesto Arancibia que tinha em seu elenco Mauricio Jouvet e Jose Olarra.
No ano seguinte, dedica-se a ordenar as anotações que vinha guardando há tempos e dar forma ao romance “O continente”. Traduz “Maquiavel e a dama”, de Somerset Maugham.
”O continente”, primeiro volume de “O tempo e o vento”, é finalmente publicado, em 1949, recebendo muitos elogios da crítica. Recebe o escritor franco-argelino Albert Camus, autor de “A peste”, em sua passagem por Porto Alegre.
No ano de 1951, é lançado o segundo livro da trilogia “O tempo e o vento”: “O retrato”. O trabalho não tão bem recebido pela crítica como o primeiro livro.
Assume, em 1953, a convite do governo brasileiro, em Washington, E.U.A., a direção do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, na Secretaria da Organização dos Estados Americanos, substituindo a Alceu Amoroso Lima.
No ano seguinte, é agraciado com o prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra. Lança “Noite”, novela que é traduzida na Noruega, França, Estados Unidos e Inglaterra. Visita, face às funções assumidas junto à OEA, diversos países da América Latina, proferindo palestras e conferências.
De volta ao Brasil, em 1956, lança “Gente e bichos”, coleção de livros para crianças. Sua filha casa-se com David Jaffe e vai morar nos Estados Unidos. Dessa união nasceriam seus netos Michael, Paul e Eddie.
Em 1957, publica “México”, onde conta as impressões da viagem que fizera àquele país.
”O arquipélago”, terceiro livro da trilogia “O tempo e o vento”, começa a ser escrito em 1958. Tem um mal-estar ao discursar na abertura de um congresso em Porto Alegre. Consegue se refazer e disfarçar o ocorrido.
Acompanhado de sua mulher e do filho Luis Fernando, faz sua primeira viagem à Europa, em 1959. Expõe sua defesa à democracia em palestras proferidas em Portugal e entra em choque com a ditadura salazarista. Lança “O ataque”, que reunia três contos: “Sonata”, “Esquilos de outono” e “A ponte”, além de um capítulo inédito de “O arquipélago”. Passa uma temporada na casa de sua filha, em Washington.
Dedica-se, em 1960, a escrever “O arquipélago”.
Em 1961, sofre o primeiro infarto do miocárdio. Após dois meses de repouso absoluto, volta aos Estados Unidos com sua mulher. Saem os primeiros tomos de “O arquipélago”.
O terceiro tomo de “O Arquipélago” é publicado em 1962, concluindo o projeto de “O tempo e o vento”. O volume é considerado uma obra-prima. Visita a França, Itália e a Grécia. A mãe do biografado falece em 1963.
Em 1964, seu filho Luis Fernando casa-se com Lúcia Helena Massa, no Rio de Janeiro, cidade para a qual ele se mudara em 1962. Dessa união nasceriam Fernanda, Mariana e Pedro. Insurge-se contra o golpe militar e dirige manifesto a seus leitores em defesa das instituições democráticas. Recebe o título de “Cidadão de Porto Alegre”, conferido pela Câmara de Vereadores daquela cidade.
Ganha o Prêmio Jabuti – Categoria “Romance”, da Câmara Brasileira de Livros, em 1965, com o livro “O senhor embaixador”. Volta aos Estados Unidos.
A convite do governo de Israel, visita aquele país em 1966. Vai aos Estados Unidos, mais uma vez, visitar seus familiares. Escreve “O prisioneiro”, que seria lançado em 1967. A Editora José Aguilar, do Rio de Janeiro, publica, em cinco volumes, o conjunto de sua ficção completa. Desse conjunto faz parte uma pequena autobiografia do autor, sob o título “O escritor diante do espelho”.
"O tempo e o vento”, sob a direção de Dionísio Azevedo, com adaptação de Teixeira Filho, estréia na TV Excelsior, em 1967. No elenco, Carlos Zara, Geórgia Gomide e Walter Avancini.
É agraciado com o prêmio “Intelectual do ano” (Troféu Juca Pato”), em 1968, em concurso promovido pela “Folha de São Paulo” e pela “União Brasileira de Escritores”.
No ano seguinte, a casa onde Erico nascera, em Cruz Alta, é transformada em Museu Casa de Erico Verissimo. Lança “Israel em abril”. Em 1971, é editado o livro “Incidente em Antares”.
Em 1972, comemorando os 40 anos de lançamento de seu primeiro livro, relança “Fantoches”, onde o autor acrescentou notas e desenhos de sua autoria. Amplia sua autobiografia, publicada em 1966, fazendo surgir suas memórias — sob o título de “Solo de clarineta” — cujo primeiro volume é publicado em 1973.
O escritor falece subitamente no dia 28 de novembro de 1975, deixando inacabada a segunda parte do segundo volume de suas memórias, além de esboços de um romance que se chamaria “A hora do sétimo anjo”.
Postumamente, é lançado, em 1976, “Solo de clarineta – Memória 2”, organizada por Flávio Loureiro Chaves.

OBRAS DO AUTOR
Contos:
Fantoches -1932
As mãos de meu filho – 1942
O ataque – 1958
Romances:
Clarissa – 1933
Caminhos cruzados – 1935
Música ao longe – 1936
Um lugar ao sol – 1936
Olhai os lírios do campo – 1938
Saga – 1940
O resto é silêncio – 1943
O tempo e o vento (1ª parte) — O continente – 1949
O tempo e o vento (2ª parte) — O retrato – 1951
O tempo e o vento (3ª parte) — O arquipélago – 1961
O senhor embaixador – 1965
O prisioneiro – 1967
Incidente em Antares – 1971
Novela:
Noite – 1954
Literatura Infanto-Juvenil:
A vida de Joana d’Arc – 1935
As aventuras do avião vermelho – 1936
Os três porquinhos pobres – 1936
Rosa Maria no castelo encantado – 1936
Meu ABC – 1936
As aventuras de Tibicuera – 1937
O urso com música na barriga – 1938
A vida do elefante Basílio – 1939
Outra vez os três porquinhos – 1939
Viagem à aurora do mundo – 1939
Aventuras no mundo da higiene – 1939
Gente e bichos – 1956
Narrativas de viagens:
Gato preto em campo de neve – 1941
A volta do gato preto – 1946
México – 1957
Israel em abril – 1969
Autobiografias:
O escritor diante do espelho – 1966 (em “Ficção Completa”)
Solo de clarineta – Memórias (1º volume) – 1973
Solo de clarineta – Memórias 2 – 1976 (ed. póstuma, organizada por Flávio L. Chaves)
Ensaios:
Brazilian Literature – an Outline – 1945
Rio Grande do Sul – 1973
Breve história da literatura brasileira – 1995 (tradução de Maria da Glória Bordini)
Biografias:
Um certo Henrique Bertaso – 1972
Compilações:
Obras de Erico Verissimo – 1956 (17 volumes)
Obras completas – 1961 (10 volumes)
Ficção completa – 1966 (5 volumes)
Traduções:
Livros do autor foram traduzidos para o alemão, espanhol, finlandês, francês, holandês, húngaro, indonésio, inglês, italiano, japonês, norueguês, polonês, romeno, russo, sueco e tcheco.
Trabalhos como tradutor:
Romances:
O sineiro (The Ringer), de Edgar Wallace – 1931
O círculo vermelho (The Crimson Circle), de Edgar Wallace – 1931
A porta das sete chaves (The Door with Seven Locks), de Edgar Wallace – 1931
Classe 1902 (Jahrgang 1902), de Ernst Glaeser – 1933
Contraponto (Point Counter Point), de Aldous Huxley – 1934
E agora, seu moço? (Kleiner Mann, Was nun?), de Hans Fallada – 1937
Não estamos sós (We Are Not Alone), de James Hilton – 1940
Adeus mr. Chips (Goodbye Mr. Chips), de James Hilton – 1940
Ratos e homens (Of Mice and Men), de John Steinbeck – 1940
O retrato de Jennie (Portrait of Jennie), de Robert Nathan – 1942
Mas não se mata cavalo? (They Shoot Horses, Don’t’ they?), de Horace McCoy – 1947
Maquiavel e a dama (Then and Now), de Somerset Maugham – 1948
A pista do alfinete novo (The Clue of the New Pin), de Edgar Wallace – 1956
Contos:
”Psicologia” (“Psychology”), de Katherine Mansfield – 1939 (Revista do Globo)
Felicidade (Bliss), de Katherine Mansfield – 1940”
O meu primeiro baile” (“Her First Ball”), de K. Mansfield – 1940 (Revista da Globo)
DOCUMENTÁRIO:
Um contador de histórias. Curta-metragem com direção de David Neves e Fernando Sabino. Narração: Hugo Carvana – 1974.
ADAPTAÇÕES:
Para o cinema:
Mirad los Lirios Del Campo, Argentina – 1947
Baseado em Olhai os lírios do campo
Direção de Ernesto Arancibia
Roteiro: Túlio Demicheli.Atores: Jose Olara e Mauricio Jouvert
O sobrado, Brasil – 1956
Baseado em O tempo e o vento
Direção: Cassiano Gabus Mendes e Walter George Durst
Atores: Rosalina Granja Lima e Lima Duarte
Um certo capitão Rodrigo, Brasil – 1970
Baseado em O tempo e o vento
Direção: Anselmo Duarte
Atores: Francisco di Franco e Newton Prado
Ana Terra, Brasil – 1971
Baseado em O tempo e o vento
Direção: Durval Gomes Garcia
Atores: Rossana Ghessa e Geraldo Del Rey.
Noite, Brasil – 1985
Baseado em Noite
Direção: Gilberto Loureiro
Atores: Marco Nanini, Cristina Ache e Eduardo Tornaghi.
Para a televisão:
O tempo e o vento, Brasil – 1967
Baseada em O tempo e o vento
Novela de Teixeira Filho
Direção: Dionísio Azevedo
Atores: Carlos Zara, Geórgia Gomide e outrosTV Excelsior.
Olhai os lírios do campo, Brasil – 1980
Baseada em Olhai os lírios do campo
Novela de Geraldo Vietri e Wilson Aguiar Filho
Direção: Herval RossanoAtores: Cláudio Marzo, Nívia Maria e outrosTV Globo.
O resto é silêncio, Brasil – 1981
Baseado em O resto é silêncio
Telerromance de Mario Prata
Direção: Arlindo Pereira
Atores: Carmem Monegal, Fernando Peixoto e outrosTV Cultura.
Música ao longe, Brasil – 1982
Baseado em Música ao longe
Telerromance de Mario Prata
Direção: Edson Braga
Atores: Djenane Machado, Fausto Rocha e outrosTV Cultura.
O tempo e o vento, Brasil – 1985
Baseada em O tempo e o vento
Minissérie de Doc Comparato
Direção: Paulo José
Atores: Tarcísio Meira, Glória Pires e outrosTV Globo.
Incidente em Antares, Brasil – 1994
Baseada em Incidente em Antares
Minissérie de Charles Peixoto e Nelson Nadotti
Direção: Paulo José
Atores: Fernanda Montenegro, Paulo Betti e outrosTV Globo.
Fonte: © Projeto Releituras / Arnaldo Nogueira Jr

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Simplesmente....Whitman


"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado,
E disse à minha alma:
Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse:
Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho."



Walt Whitman
Eis um poeta por inteiro. Dono de um talento para o verso livre, que canta o cotidiano dos comuns e inebria o universo poético com um lirismo revolucionário, que o transformaram num dos mais célebres poetas da história universal.
Sua obra maior, "Folhas de Relva" é, indubitavelmente, um dos maiores premios que recebemos, enquanto leitores. Uma obra das maiores, nas páginas da literatura universal. Whitman é pleno, pinça os ideais de democracia abertamente até penetrar, conscientemente na alma de seus apreciadores. Seguiu seu caminho incólume, sem seguir os preceitos literários e cartilhescos da Europa. Seu estilo era próprio...e se consagrou como a maior expressão da poesia universal...certamente. "Não se vê e nem se reconhece, nem mesmo na língua portuguesa, alguém que lhe roube esta posição, mesmo porque foi ele o precursor de uma corrente que se instalou nos Estados Unidos, ramificando por todos os cantos." afirmou José Roberto Guedes de Oliveira.
O legado e influências de Whitman
“Com Folhas de Relva, pode ser considerado um dos mais importantes precursores da poesia moderna e, sem dúvida, um dos pouquíssimos autores do século XIX a libertar-se, na América, dos modelos europeus. Guardadas as distinções peculiares, os escritores dos Estados Unidos viviam, até Walt Whitman, a mesma contradição que os autores brasileiros experimentavam até Machado de Assis e Mário de Andrade, um hibridismo cultural que consistia em revestir os temas nacionais de códigos europeus, formas esvaziadas de sentido, deslocadas de seu processo social”. (poeta Luciano Alves Meira)
Folhas de Relva
Luiz Girón, escritor, aborda a amplitude deste livro:
“O fato de o poeta Walt Whitman (1819-1892) figurar como um dos vultos nacionais americanos prejudicou sua recepção na América Latina. O patriotismo, porém, é o traço menos interessante de sua obra. O que importa é a revolução nas letras que seu livro de estréia desencadeou. Folhas de Relva (Leaves of Grass), lançado em 1855 em edição do autor, pode ser definido como a primeira manifestação modernista, muito antes da dos fundadores oficiais da vanguarda moderna, Arthur Rimbaud (Uma Temporada no Inferno, 1871) e Stéphane Mallarmé (Um Lance de Dados, 1897). Folhas de Relva é uma erupção cósmica do verso livre. Whitman reescreveu e acrescentou poemas no volume até o fim da vida. Realizou, assim, o sonho de Mallarmé de traduzir em poesia um livro que representasse o mundo. Como escreveu Jorge Luis Borges num poema, Whitman tomou a decisão, numa redação de jornal do Brooklyn, em Nova York, de ser todos os homens "e de escrever um livro que seja todos". A voz lírica se despersonaliza para comungar com a vida e se transformar em tudo ao mesmo tempo: homens, máquinas, natureza e tempo. Ler Folhas de Relva se parece com levar um empurrão e ser jogado no olho da rua, no meio da pulsação do Universo”.
O estranho sonho de Lincoln
O escritor e pensador Voltaire Shilling aborda um fato singular da vida norte-americana: um sonho que o então presidente Abraham Lincoln teve sobre sua própria morte.
Lincoln, morto na hora da vitória.
Uns dias antes de ser baleado, o Presidente Lincoln, que estava longe de ser o caipira santarrão da lenda popular, contou a seu secretário John Hay um estranho sonho. Na verdade, um pesadelo. Nele vira várias pessoas correndo em direção ao Salão Leste da Casa Branca, onde foi encontrar seu próprio corpo estirado e ouviu vozes dizendo "Lincoln está morto. Nas vésperas do atentado, na noite de 13 de abril de 1865, teve ainda um outro. Aparecia como o comandante de um navio que, em meio a uma tormenta, se aproximava do porto de destino, mas sua sensação é que não concluiria a viagem.

A morte do capitão
Não faço a mínima idéia de como o poeta Walt Whitman tomou conhecimento desse sonho, mas serviu de mote para que compusesse uma das mais belas elegias da língua inglesa moderna. O poeta se coloca como integrante da tripulação de um barco que, depois de terríveis desafios - a dolorosa guerra civil entre o Norte e o Sul, de 1861 a 1865 - consegue finalmente se aproximar do cais. Mas, justamente no momento da euforia, verifica que o capitão sucumbira repentinamente. Lá estava ele envolto em gotas de sangue vermelho: "Where on the deck my Captain lies / Fallen cold and dead." Por mais que tente reanimá-lo, não mais lhe responde. Não escuta mais a multidão que exulta lá fora. Ignora o toque dos clarins e os ramalhetes de flores, nem vê a bandeira içada em sua honra. Enquanto o povo ainda desconhece o ocorrido e comemora o fim da aventura, o poeta-marinheiro Whitman anda com tristeza pelo convés onde jaz seu capitão, caído, frio e morto.
Oh Capitão! Meu Capitão!
Ó capitão! Meu capitão! terminou a nossa terrível viagem,
O navio resistiu a todas as tormentas, o prêmio que buscávamos está ganho,
O porto está próximo, ouço os sinos, toda a gente está exultante,
Enquanto segue com os olhos a firme quilha, o ameaçador e temerário navio;
Mas, oh coração! coração! coração! Oh as gotas vermelhas e sangrentas,
Onde no convés o meu capitão jaz,
Tombado, frio e morto.
Ó capitão! meu capitão! ergue-te e ouve os sinos;
Ergue-te – a bandeira agita-se por ti, o cornetim vibra por ti;
Para ti ramos de flores e grinaldas guarnecidas com fitas – para ti as multidões nas praias,
Chamam por ti, as massas, agitam-se, os seus rostos ansiosos voltam-se;
Aqui capitão! querido pai!
Passo o braço por baixo da tua cabeça!
Não passa de um sonho que, no convés,
Tenhas tombado frio e morto.
O meu capitão não responde, os seus lábios estão pálidos e imóveis,
O meu pai não sente o meu braço, não tem pulso nem vontade,
O navio ancorou são e salvo, a viagem terminou e está concluída,
O navio vitorioso chega da terrível viagem com o objetivo ganho:
Exultai, ó praias, e tocai, ó sinos!
Mas eu com um passo desolado,
Caminho no convés onde jaz o meu capitão,
Tombado, frio e morto"
(Tradução de Maria de Lurdes Guimarães)

O Captain! My Captain!
O Captain! my Captain! our fearful trip is done, The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won, The port is near, the bells I hear, the people all exulting, While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring; But O heart! heart! heart!O the bleeding drops of red,Where on the deck my Captain lies, Fallen cold and dead.
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;Rise up--for you the flag is flung--for you the bugle trills,For you bouquets and ribbon'd wreaths--for you the shores a-crowding,For you they call, the swayingmass, their eager faces turning;Here Captain! dear father!This arm beneath your head!It is some dream that on the deck,You've fallen cold and dead.
My Captain does not answer, his lips are pale and still, My father does not feel my arm, he has no pulse nor will, The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done, From fearful trip the victor ship comes in with object won; Exult O shores, and ring O bells!But I with mournful tread,Walk the deck my Captain lies, Fallen cold and dead.
Whitman por ele mesmo, notas biográficas
Nascido em 31.05.1819, em West Hills, Long Island, Estado de New York e falecido em 26.03.1892, em Camden, Estado de New Jersey, aos 73 anos de idade.
Seus pais: Walter Whitman e Louisa Van Velsor Whitman. Viveu na sua cidade natal até os 4 anos de idade. Depois a família mudou-se para o Brooklin.
Trabalhou de 1831 a 1834, em escritório de advogado, consultório médico e como aprendiz de tipógrafo.
Em 1836, com 17 anos de idade, inicia a carreira jornalística, no famoso jornal Mirror, em New York.
Por volta de 1838, trabalha como professor em Suffolk (Virgínia) e Queens (New York). Publica o semanário The Long Islander, em Hungtington. Logo em seguida, colabora com o jornal New World.
De 1846-1847 dirige o jornal Brooklyn Daily Eagle.
Em 1848 dirige-se para o sul, passando por Ohio, Mississippi e New Orleans. Passa a construir casas e vendê-las.
Em 1849, torna-se delegado à convenção que formalizou a candidatura de Van Buren à Presidência dos Estados Unidos.
Aos 36 anos de idade, em 1855, publica a primeira edição da sua monumental obra Folhas de Relva (com 12 poemas e sem o nome do autor). Morreu o seu pai.
Em 1856 sai a 2ª. edição do livro, já com 384 páginas(com capa e nome do autor).
Em 1860, a 3ª. edição de Folhas de Relva, com cerca de 456 páginas (o livro é pirateado).
Com o início da Guerra de Secessão, em 1861, trabalha como enfermeiro nos hospitais de campanha, atendendo os feridos de combates.
Em 1865, com a rendição do General Lee, é conduzido a cargo de governo.
Em 1867, sai a 4ª. edição de Folhas de Relva.
Em 1871, a 5ª. edição do livro.Sofre a 1ª paralisia. Morre a sua mãe.
Em 1873 está em Philadelphia, agravado em sua saúde. Não se adapta e transfere-se para a casa de seu irmão, em Camden, permanecendo lá por cerca de 15 anos. Sai a 6ª. edição da obra.
Em 1877, conhece Maurice Bucke.
Em 1881, a 7ª. edição, publicada em Boston.
Em 1882, Folhas de Relva é publicado em Philadelphia, sendo a 8ª. edição. Conhece Oscar Wilde.
Em 1888, sofre a 2ª paralisia parcial, agravando-se a sua saúde.
Em 1891 revê, pela 9ª vez, a sua obra. Último toque seu, pouco antes de falecer. Nos últimos anos de vida, em completa pobreza, foi auxiliado por seus amigos americanos e europeus.



Heitor Saldanha...cem anos





Hoje enquanto tiver dinheiro beberei
Depois entregarei ao garçom meu relógio de pulso
meus carpins de nylon
meus óculos de tartaruga (que nome bonito)
minha caneta tinteiro
e continuarei bebendo bebendo
sem literatura sem poema sem nada.
Só.
Como se o mundo começasse agora.
Estou nesses conscientes estados de alma
em que não posso me salvar
e nem salvá-la.


ANDAMENTO
De que estarei me despedindo hoje?
Há em mim uma clara ressonância de despedida.
Mas não devo saber, nem é preciso saber.
Creio que vim pra dizer
um dia na cara do mundo:
hoje estou me despedindo.
E as criaturas boas do meu sangue
abririam a boca
que lhes cortasse o ímpeto inexpresso.
Claro que estou me despedindo.
Hoje sou mais criança do que nunca.

Heitor Saldanha (Cruz Alta 1910 - Porto Alegre 1986). Poemas extraídos do livro A Hora Evarista, Instituto Estadual do Livro, Editora Movimento, Porto Alegre, 1974. Desenho do escritor feito pelo grande artista plástico francês Michel Drouillon. Publicado no fascículo sobre o poeta da série Autores Gaúchos, do Instituto Estadual do Livro, Porto Alegre, 1984.